Eu, Danúbia Silva, sendo uma mulher negra de pele clara, não periférica, compreendo a passabilidade para acessos e oportunidades ao longo da minha jornada profissional.
Após a transição da minha jornada, eu continuo tendo algumas oportunidades, principalmente a acessar eventos de grande porte, com o valor do passaporte que é distante da realidade de mulheres negras e indígenas (a não ser que estas estejam trabalhando em grandes empresas, que não maioria das vezes não é o caso).
Fazendo o teste do pescoço, ainda observo a manutenção de privilégios, painéis sem diversidade, muitas falas com vieses inconscientes a grupos sub-representados e falta de acessibilidade de um modo geral (falta da tradução em libras e banheiros inacessíveis para pessoas com deficiência ou obesas, por exemplo).
Como viabilizar esse acesso?
Viabilizar o acesso de mulheres negras e indígenas a grandes eventos envolve uma série de medidas que buscam combater a exclusão social, garantir diversidade e criar espaços mais inclusivos. É possível avaliar algumas possibilidades, como:
1. Política de ingresso com valor social
Implementar políticas de ingresso com valor social para mulheres negras e indígenas, garantindo a presença dessas mulheres nos eventos e reserva de vagas para palestrantes, participantes ou pessoas expositoras que sejam mulheres negras e indígenas, permitindo que elas também sejam protagonistas.
2. Parcerias com organizações comunitárias
Formar parcerias com ONGs, coletivos e associações que atuam em prol das mulheres negras e indígenas. Essas organizações podem ajudar na divulgação dos eventos e na mobilização das comunidades. Além disso, elas podem orientar sobre as necessidades e garantir que a inclusão seja eficaz.
3. Subsídios para deslocamento e hospedagem
Mulheres negras e indígenas muitas vezes enfrentam barreiras financeiras para comparecer a grandes eventos, que incluem despesas com transporte e acomodação. Fornecer subsídios para deslocamento e hospedagem pode ser uma maneira de incentivar a participação dessas mulheres.
4. Diversidade de Conteúdo
Incluir temas que interessem e representem as realidades e as vivências de mulheres negras e indígenas é fundamental para atrair esse público. Isso pode envolver:
- Painéis, workshops e palestras com mulheres dessas comunidades.
- Sessões sobre questões sociais, culturais e políticas relevantes, como racismo, machismo, direitos indígenas e interseccionalidade.
5. Acessibilidade e Segurança
Garantir que os eventos sejam acessíveis em termos de idioma, cultura e estrutura. Alguns aspectos incluem:
- Tradução para línguas indígenas ou fornecimento de materiais adaptados culturalmente.
- Espaços de acolhimento onde essas mulheres se sintam seguras e respeitadas.
- Políticas contra discriminação e racismo, com equipes treinadas para lidar com situações de preconceito.
6. Divulgação Direcionada
Promover campanhas de divulgação focadas nas comunidades negras e indígenas, usando canais de comunicação que essas mulheres acessam, como redes sociais, rádios comunitárias e jornais alternativos.
7. Mentorias e Rede de Apoio
Criar programas de mentoria para mulheres negras e indígenas nos eventos, ajudando-as a se conectar com outros profissionais e ampliando suas oportunidades de participação em futuros eventos.
Essas medidas não apenas facilitam o acesso, mas também promovem a equidade, valorizam a diversidade e garantem que mulheres negras e indígenas sejam parte integral de grandes eventos.
Danúbia Silva, é mulher cisgênero, 40+, negra de pele clara, natural de Campinas/SP. Especialista em Diversidade e Inclusão e ESG, Mentora de Carreira e Palestrante, atuou por mais de 20 (vinte) anos no corporativo com vendas, experiência do cliente, treinamentos e gestão de crise. Comunicadora em formação, é uma entusiasta em transformação dos ambientes e gosta de pensar que está trilhando um caminho para uma sociedade mais justa.