Do Norte ao Sul do país existe uma certeza que permeia entre as mulheres negras: há uma força que herdamos da nossa avó, da nossa mãe e de tantas outras mulheres que fizeram e fazem parte das nossas trajetórias. Sendo assim, não é possível falar na luta das mulheres negras sem falar em ancestralidade e feminismo negro.
Antes de tudo, reverenciamos quem veio antes, semeou a terra e a tornou fértil para que meninas e mulheres negras como eu, pudessem escrever a própria história, rompendo com o lugar que foi “reservado” para nós pelo racismo e o machismo.
Você provavelmente já ouviu a voz inconfundível de Elza Soares, mulher preta, cantora e ícone da música brasileira, né? Uma de suas frases mais marcantes diz: “Precisamos ser criadas para a liberdade. O mundo é grande demais para não sermos quem a gente é.”
Então, nada mais justo do que falar sobre a história do que nos trouxe até aqui, certo? Conhecimento também é uma forma de liberdade.
Continue a leitura e conheça mais sobre a importância da ancestralidade e feminismo negro na nossa sociedade!
Qual é a história do feminismo negro no Brasil?
É possível dizer que o feminismo negro nasce em nosso país como uma demanda que surge a partir de enfrentamentos de mulheres negras em coletivos e organizações que lutavam contra o racismo, mas não faziam recorte de gênero em suas discussões.
Além disso, ao longo dos anos e do avanço do movimento feminista no Brasil, ficou evidente a segregação entre mulheres brancas e mulheres negras, o que demonstra a fragilidade das discussões levantadas sobre gênero. Não podemos falar em representar “mulheres” sem incluir mulheres negras, seus anseios e perspectivas.
Assim, ainda em 1970, nasce o MMN, Movimento de Mulheres Negras, visando lutar contra a dupla segregação: de raça e gênero.
Isso em uma época que ainda não havia completado nem cem anos da abolição da escravidão.
O que isso significa?
Que a sociedade, até os dias atuais, ainda faz vista grossa sobre as opressões sofridas por mulheres negras, sejam elas antes ou no pós abolição.
Qual a relação entre a ancestralidade e o feminismo negro?
Não é possível falar da luta das mulheres negras sem antes falar sobre ancestralidade.
Muito antes desse termo vir à tona e se tornar pauta nas discussões sociais e políticas do Brasil, as práticas e ideologias que constroem o feminismo negro já existiam na vivência de mulheres negras ao longo da história.
Falando nisso, Patricia Hill Collins, socióloga estadunidense, retrata isso quando diz que “o feminismo negro vem da resolução de problemas da vida cotidiana. Não vem de ideologia”.
E é por isso, que antes de feministas negras, mulheres negras nascem e se constroem a partir da prática desses ideais em sua própria rotina. Ouso dizer ser uma espécie de DNA ancestral que carregamos e nos faz seguir um dos lemas da luta de mulheres negras: “quando uma sobe, puxa outra!”.
É nesse contexto que podemos exemplificar todas essas histórias com nomes de mulheres que influenciam o nosso cotidiano.
Lélia Gonzalez: um grande nome do feminismo negro no Brasil
A história de uma das mulheres negras mais importantes para as discussões sobre feminismo negro reverbera até hoje em todas nós, mulheres negras.
Isso acontece, porque de certa forma, relembrar e referenciar a trajetória de luta de quem veio antes é também viver uma ancestralidade que nos lembra que precisamos resistir e seguir caminhando para manter vivo o legado de mulheres tão grandiosas como Lélia Gonzalez.
Nascida em Minas Gerais no ano de 1935, filha de uma empregada doméstica e um operário, de mãe indígena e pai negro. Se formou filósofa e historiadora pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e assim, por vivenciar a branquitude acadêmica, viu na militância uma forma de lutar contra o sistema racista e machista.
Não há exagero quando se fala que Lélia foi fundamental para a construção política do nosso país, afinal, ela participou da fundação do Movimento Negro Unificado (MNU), do Partido dos Trabalhadores (PT), atuou nas discussões sobre a Constituição de 1988 e foi integrante do primeiro Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.
Sem dúvida, Lélia Gonzalez foi uma mulher à frente do seu tempo e transformou não só a sua geração de mulheres negras, como as que vieram depois, seja intelectualmente, politicamente ou socialmente.
Há uma frase dela que fala muito sobre esse processo:
“A mulher negra é responsável pela formação de um inconsciente cultural negro brasileiro. Ela passou os valores culturais negros, a cultura brasileira é eminentemente negra, esse foi seu principal papel desde o início.”
Ou seja, não se pode pensar em uma sociedade brasileira dissociada das mulheres negras.
Qual a importância do feminismo negro nos dias atuais?
As gerações de mulheres negras que nascem após este grande movimento que deu um “boom” nas discussões sobre o feminismo negro, percebem o reflexo dos avanços conquistados ainda lá atrás em seu cotidiano.
Em outras palavras, podemos dizer que com a popularização do feminismo negro como uma pauta social e política, podemos presenciar a transformação de milhares de mulheres negras, que viram nesta luta, o apoio necessário para romper com o silêncio sobre as opressões sofridas.
Este movimento impactou inúmeras esferas da sociedade, seja politicamente, ao eleger mais mulheres negras nas últimas eleições. No mundo corporativo, com o aumento do número de mulheres negras inseridas em cargos de liderança, por exemplo, ainda que não seja o suficiente – mas isso é papo pra outra hora, né?
Sem falar quando aquela menina negra que por anos alisou o cabelo decide assumir seu black ou quando uma mulher negra coordena as pesquisas para a vacinação contra o COVID-19.
Assim, a ancestralidade e o feminismo negro contribuiram para que meninas e mulheres negras tenham mais coragem de romper com o silêncio, erguer a voz e ocupar espaços que disseram que não eram possíveis.
Pretas, não esqueçam: nós somos mulheres livres e não há nada que não seja possível para nós!
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Ah, aproveita e conta pra gente como foi que ancestralidade e o feminismo negro transformaram a sua vida. 🤎
Texto por Maria Carolina Martini
Maria Carolina Martini no RG, mas Oyá Denan é o nome que a ancestralidade deu. Mulher negra e sapatão no mundo da comunicação, redatora criativa e analista de treinamento, apaixonada por SEO e pelos caminhos do copywriting, nas horas vagas é poeta e não recusa um convite para um bom acarajé.
Conteúdos produzidos pelas alunas do Curso de Conteúdo Criativo e SEO da Awalé.