Lembro como se fosse ontem que me vi perdida em um labirinto de questionamentos no meu novo emprego. Engoli o nó na garganta, e como nunca tinha feito antes, procurei minha coordenadora admitindo minha insegurança.
Ela, como sempre, foi compreensiva, compartilhou suas próprias histórias e desafios e ofereceu orientação. Naquela exposição a alguém que eu pouco conhecia, encontrei não só respostas, mas um apoio que fortaleceu nossa relação profissional.
Este seria um lindo fim de uma história de sucesso sobre como ser vulnerável é fácil e vale a pena. Mas não é bem assim que funciona!
Vulnerabilidade social vs. Vulnerabilidade emocional
Como dizer para outras mulheres que são impostas a vulnerabilidade social, que a vulnerabilidade emocional é o melhor caminho?
Quero propor uma reflexão sobre até que ponto é possível e até mesmo o quanto pode ser benéfico (ou não), expor as fraquezas para o desenvolvimento pessoal e profissional.
Quando falo sobre vulnerabilidade, gosto de destacar a diferença entre a social e a emocional.
Pesquisas como o relatório do projeto Mude com Elas, que indicou que o salário de mulheres negras e pardas no Brasil é 47% menor do que a média dos brasileiros, são infelizes lembretes de como somos vistas na sociedade, destacando a vulnerabilidade social que nos é imposta.
Por outro lado, a vulnerabilidade emocional é uma escolha pessoal, e somos frequentemente ensinadas a não mostrá-la. A vulnerabilidade social cria a necessidade de “ser forte o tempo todo”, e qualquer uma de nós, inseridas neste contexto, facilmente reconhecemos.
Infelizmente existe uma constante obrigação de se blindar contra as injustiças e discriminações diárias. No entanto, é possível que essa blindagem nos impeça de ressignificar nossas fraquezas?
Compartilhando para fortalecer
É importante desmistificar a ideia de que ser vulnerável significa revelar tudo sobre si mesma para todos. Num primeiro momento é, na verdade, uma forma de honrar nossos próprios limites emocionais, definindo claramente o que estamos dispostos a compartilhar e com quem. Mas não devemos nos limitar!
Expressar nossas opiniões de maneira honesta é parte integrante desse processo. Muitas vezes, isso envolve enfrentar ambientes onde nossas vozes são silenciadas, exigindo uma dose extra de coragem.
Tudo é um processo. Ao estabelecer limites claros e confiar em nossos instintos, protegemos nossa própria integridade emocional, mas, ao mesmo tempo, podemos começar a diluir a armadura que nos foi imposta buscando um ambiente seguro para começar.
Saber reconhecer esses espaços de acolhimento das vulnerabilidades é tão importante quanto saber como expressá-la. A Awalé é um exemplo brilhante de como uma comunidade pode acolher e apoiar mulheres pretas e indígenas. Aqui, reconhecemos umas nas outras nossas lutas e vitórias, e estamos sempre dispostas a ajudar.
Essa rede de apoio é fundamental para o desenvolvimento pessoal e profissional. E ver-se refletida em outra mulher que, mesmo com diferentes vivências, caminha pelo progresso de todas as outras é uma das maiores forças que podemos ter.
Em um ambiente que acolhe e valoriza nossas experiências, a vulnerabilidade se torna uma um caminho para o fortalecimento de nossas carreiras e para a construção de um futuro mais justo e equitativo.
Mãe de dois e carioca da zona norte, é bacharel em Jornalismo e pós graduanda em marketing estratégico digital. Possui quase cinco anos de atuação com redação e marketing de conteúdo. Com passagem por agências de publicidade, trabalhou com clientes dos mais variados segmentos. Sua expertise se destaca no campo do conteúdo B2B e tecnologia. Acredita nas palavras como pontes para criar conexões e soluções significativas.