Escritoras indígenas: 5 obras que você precisa ler hoje mesmo

escritoras indigenas

Você já parou para refletir sobre quantas mulheres escritoras você já leu até hoje? Se foram muitas ou poucas, você saberia dizer quantas dessas são escritoras indígenas? Que tal conhecer mais sobre elas? Segue lendo abaixo.

 

Atualmente, existem mais de 305 povos indígenas no Brasil. Isso evidencia a diversidade étnico-racial e cultural em nosso país. Apesar disso, há uma invisibilidade sistemática e estrutural sobre esses povos, que contribui na propagação de estereótipos e preconceitos raciais. 

 

Com a popularização da internet, grupos sociais historicamente excluídos encontram no meio digital uma importante ferramenta de ampliação das suas vozes e produções autorais. Não foi diferente com a literatura.

 

Movimentos como Leia Mulheres é uma das ações que atravessaram fronteiras e estão cada vez mais populares entre o público feminino e criadores de conteúdo literário nas redes sociais. 

 

A partir dessa movimentação, a literatura desenvolvida por mulheres ganhou mais visibilidade. Houve também uma importante contribuição para evidenciar escritoras negras como Audre Lorde, Alice Walker e Conceição Evaristo. 

 

Entretanto, as escritoras indígenas permanecem em quase total anonimato.

 

Mesmo com instrumentos como a Lei nº 11.645 de 2008, que torna obrigatório o estudo da história e da cultura indígena e afro-brasileira, as vozes dos povos originários continuam desconhecidas pela maior parte da população brasileira.

 

Com o objetivo de lutar contra o apagamento e a falta de representação, escritoras indígenas estão se fortalecendo coletivamente e divulgando suas literaturas. Como são os casos do Leia Mulheres Indígenas e o coletivo Mulherio das Letras Indígenas.

5 obras de escritoras indígenas que você precisa conhecer

Pensando nisso, apresentamos abaixo 5 obras de autoria indígena feminina que você não pode deixar de conhecer:

1. Metade Cara, Metade Máscara

 

Metade Cara, Metade Máscara é obra da escritora indígena Eliane Potiguara. Hoje, existem aldeias do povo Potiguara nos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia. Como Eliane, parte dos Potiguara também vivem em áreas urbanas de todo o país. 

 

Primeira mulher indígena a publicar um livro no Brasil, Eliane começou a escrever ainda criança, enviando cartas aos parentes da Paraíba em nome de sua avó. É Embaixadora Universal da Paz e doutora “honoris causa” pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

 

Seu livro é um marco na literatura brasileira, versando sobre a identidade indígena, a expulsão dos povos de seus territórios ancestrais e a migração forçada para os centros urbanos. Apresenta narrativas de heróis e heroínas originários e a importância da afirmação e pertencimento ao seu povo de origem.

2. Tecendo Memórias do Povo Mura e Outros Parentes

Márcia Mura é autora do livro “Tecendo Memórias do Povo Mura e Outros Parentes”. A escritora indígena do povo Mura vive em seu território ancestral, às margens do Rio Madeira, no estado de Rondônia. 

 

Sua obra é resultado da pesquisa desenvolvida durante seu doutorado em História Social pela USP. Nela, Márcia Mura reafirma as histórias e vivência do seu povo.

 

Aborda aspectos sobre o apagamento da existência indígena no presente e como comunidades continuam vivendo a partir de suas próprias percepções de identidade e pertencimento. 

3. Coração na Aldeia, Pés no Mundo

Os povos indígenas criam literatura em gêneros variados. É o caso da escritora indígena Auritha Tabajara.

 

Auritha Tabajara é originária do estado do Ceará e é a primeira cordelista indígena a publicar no país. A Literatura de Cordel é bastante popular no Nordeste e demonstra parte da cultura nordestina. Foi dessa forma que Aurtiha Tabajara escolheu escrever “Coração na Aldeia, Pés no Mundo”. 

 

A escritora é palestrante e contadora de histórias, vivência que aprendeu com sua avó. Foi ela quem deu o nome ancestral de Auritha, que significa “pedra de luz”

Vozes Indígenas: protagonismos e direitos 

 

Coração na Aldeia, Pés no Mundo não representa apenas a voz de Auritha. Assim como a literatura de outras escritoras indígenas, Auritha Tabajara retoma para si o lugar de protagonismo que por muito tempo foi retirado dos povos originários. Em especial, da mulher indígena.

 

Podemos ver isso através do romance “Iracema”, de José de Alencar. 

 

No romance escrito em 1865, Iracema é uma indígena Tabajara que se apaixona pelo português Martim Soares Moreno. O autor José de Alencar retrata Iracema como “a virgem dos lábios de mel” e sempre disponível ao europeu. 

 

A intenção do autor foi a de contar de maneira ficcional, o nascimento do estado do Ceará e até mesmo da população brasileira. 

 

Porém, a perspectiva indígena não é levada em consideração e os povos Tabajara e Potiguara são colocados na história como símbolos de inferioridade e seres incivilizados. 4

4. Livro sem Letras: Territórios dos Povos Indígenas do Ceará 

 

A oralidade é uma das maneiras pela qual os povos originários repassam suas tradições e culturas. 

 

A escritora indígena Telma Tremembé atualiza essa tradição ao escrever o seu pioneiro “Livro sem Letras: Territórios dos Povos Indígenas do Ceará”.

 

Telma é indígena Tremembé do Ceará. Entre a luta pelos direitos dos povos indígenas e pela preservação ambiental, a escritora realiza mediação de leitura e confecciona artesanato.

 

Seu mais recente livro foi pensado para incluir as pessoas que não foram alfabetizadas. É através da imagem que cada pessoa poderá mergulhar no livro. Telma utiliza seus próprios desenhos para contar a história indígena a partir do que aprendeu com o seu povo e com outros povos do Ceará.

 

5. Contrapontos da Literatura Indígena Contemporânea no Brasil

Quer conhecer mais profundamente a literatura indígena contemporânea? Que tal conhecê-la a partir da teoria literária? Melhor ainda se for através da visão de uma escritora e crítica literária indígena, não? 

 

Pois é exatamente isso que você vai descobrir com a obra de Graça Graúna. 

 

Graça Graúna é indígena Potiguara do Rio Grande do Norte. Escritora e crítica literária, escreveu o livro “Contrapontos da Literatura Indígena Contemporânea no Brasil”. Seu livro defende e argumenta sobre o valor histórico, artístico e cultural da literatura produzida por pessoas indígenas. 

 

A escritora indígena mostra como a escrita indígena foi desacreditada. Apesar disso, Graça Graúna alega a importância dessa escrita como meio de sobrevivência, resistência e vida. 

 

Agora que você conheceu um pouco mais sobre a literatura produzida por mulheres indígenas, fique à vontade para deixar a sua opinião nos comentários. Aproveita e conta para a gente se você já conhecia alguma dessas obras.

Texto escrito por:

 

Mariana Cambirimba

Mariana é escritora e poeta. Tem 30 anos, natural de Teresina – Piauí e viveu parte da vida no Ceará. 🤎

É indígena de origem Potyguara e da Nação Kariri. Aos 18 anos saiu da praia e foi morar sozinha no sertão, local onde cursou bacharelado em Arqueologia e Preservação Patrimonial na UNIVASF. 

Trabalhou no Licenciamento Ambiental/Arqueológico. Tem experiência no serviço público, nas áreas ambiental e social. Hoje estuda marketing de conteúdo e tudo que envolve escrita, cultura, comportamento humano e criatividade.

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