Caminhando juntas: o impacto dos Grupos de Afinidade para profissionais negras

grupos de afinidade

Fazer parte de grupos de afinidade pode ser uma das sensações mais acolhedoras que uma mulher negra pode sentir durante a sua carreira profissional. Estar no meio corporativo e conseguir olhar para alguém com as mesmas características, com histórias que se parecem ou realidades que se encontram de alguma maneira, torna esse caminho mais leve e fácil de trilhar.

Isso porque, mesmo em um país como o Brasil, onde 55,5% da população é negra, ainda é muito difícil ver toda essa representatividade dentro das empresas. Muitas vezes, entramos em um time e não nos enxergamos nele, somos a “única mulher negra” da equipe, ou quando há sorte de ver outras mulheres como nós, não chega nem perto ao número de pessoas não negras.

Esse fator, muitas vezes, pode ser desmotivador e despertar aquela ideia sabotadora do “não lugar”, ou seja, quando não nos sentimos pertencentes àquele espaço. Por isso, ao se unir com o propósito de compartilhar vivências, propor mudanças, se desenvolver profissionalmente e pensar em estratégias para que possamos superar desafios que são muito específicos para as mulheres negras dentro do mercado de trabalho, a história pode mudar de página.

O que são os grupos de afinidade?

São comunidades dentro de uma empresa ou organização formadas por pessoas que compartilham características e interesses em comum, como, por exemplo, os grupos de afinidade racial. Neles, pessoas negras se unem e criam um espaço de acolhimento, troca e muitas vezes, de proposições para ações e políticas que envolvam Diversidade e Inclusão (D&I).

Normalmente, nascem organicamente nas empresas, quando colaboradores e associados percebem a necessidade de se unir com seus iguais ou até mesmo para reivindicar melhorias coletivas. Quando as empresas possuem uma estrutura que olha para D&I como um pilar, os grupos de afinidade acabam sendo parte fundamental do negócio, se tornando um agente de transformação.

E essa mudança não é só sobre a empresa ou sobre os pactos firmados para ser mais inclusiva e diversa. Mas também, sobre a possibilidade de fazer parte da construção dessas ações. Isso rompe com a ideia de que devem “falar por nós”, afinal, nada melhor do que nós mesmas falando sobre nossos objetivos, desafios e necessidades no mercado de trabalho.

A partir disso, abre-se espaço para que novos caminhos sejam percorridos, sobretudo para nós, mulheres negras, que ao fazer parte dessas comunidades, conseguimos nos empoderar profissionalmente ao enxergar outras mulheres como nós, com as mesmas inseguranças, mas com um propósito em comum: fazer parte de um mercado com as mesmas oportunidades para nós.

Como eles impactam?

Pensar no impacto dos grupos de afinidade é algo que passa muito pela linha emocional. O racismo, infelizmente, segue operando e criando barreiras que reproduzem crenças limitantes que muitas vezes podem dificultar a carreira de mulheres negras. Ao se reunir com outras pessoas negras e partilhar desses sentimentos, é possível que se crie uma rede de apoio, que não só entende, mas também, passa pelas mesmas questões.

É comum ouvir de profissionais negras que sentem falta de grupos de afinidade em suas empresas ou que logo buscam descobrir se há algum, na busca de aumentar esse sentimento de pertencimento. Afinal, é a partir dele que criamos a confiança necessária para mostrar ao mundo todo o nosso potencial e como nosso trabalho pode impactar positivamente naquele time.

Isso acaba sendo um diferencial até mesmo para despertar um novo olhar para a carreira, já que as trocas de experiências e conhecimentos com pessoas das mais diversas áreas podem te ajudar a entender melhor a sua trajetória e ter um olhar mais empático pelo seu processo.

Essa busca pelo pertencimento acontece em ambientes muitas vezes dominados por pessoas que não negras, e os grupos acabam sendo um espaço seguro para se expressar livremente, compartilhar suas experiências e encontrar apoio mútuo. 

Sem falar nas oportunidades para networking e até mesmo mentorias, que acabam sendo fundamentais para o desenvolvimento profissional e para o posicionamento no mercado, já que ao se conectar com outras pessoas, é possível abrir portas para novas oportunidades e engajar-se com outras profissionais.

Mas, sem dúvida, além do acolhimento, um dos principais impactos é a possibilidade de gerar uma mudança organizacional. Ao discutir diversidade e inclusão, é possível trazer essa pauta para dentro do negócio, ajudando a promover políticas e práticas mais inclusivas, o que é transformador para a vida de profissionais negras.

Leia: Mulheres negras na tecnologia: 3 profissionais para conhecer e se inspirar

Qual a importância desses grupos para profissionais negras?

Talvez o ato de caminhar juntas seja um dos mais empoderadores para as mulheres negras, independente do âmbito da sua vida, mas no profissional, pode ser aquele respiro necessário no meio de tantos desafios. Ter com quem partilhar as dificuldades, comemorar as conquistas, recalcular as rotas e pensar em estratégias para fortalecer a carreira, por exemplo, faz toda a diferença.

Há um provérbio africano que exemplifica isso: “Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá acompanhado”. Quando estamos sozinhas nesse caminho na busca por uma carreira de sucesso, muitas vezes nos perdemos e não sabemos para onde ir. Para as mulheres negras, essa jornada pode ser ainda mais desafiadora, pois os obstáculos são únicos e muitas vezes invisíveis. 

Ao ver outras mulheres negras alcançando o sucesso em suas carreiras, torna-se ainda mais fácil alcançar nossos próprios objetivos, isso porque, muitas vezes, o que falta é a referência de que pode dar certo para se acreditar no próprio potencial. 

A sensação de alívio em estar com outras pessoas como você, que possuem os mesmos propósitos, que lutam por um mundo corporativo mais diverso, mais inclusivo, com mais pessoas negras em lugares de liderança, com mais mulheres negras na gerência ou até mesmo pela necessidade de dialogar sobre assuntos importantes, como o racismo estrutural, a importância de ser um antirracista dentro da empresa, entre outras coisas, fazem com que o ambiente corporativo faça mais sentido.

Grupos de afinidade que transformam empresas

Tem se tornado cada vez mais comum que empresas incentivem que seus colaboradores estejam reunidos em grupos para poderem discutir questões importantes, engajar, promover ações e até mesmo participar de Comitês de Diversidades.

Uma pesquisa feita pela Blend Edu com 45 grandes empresas brasileiras mostrou que 70% delas possuem grupos de afinidade e que são extremamente importantes para a política de diversidade e inclusão dessas empresas, como a RD Station, Natura, TIM, entre outras. 

Conhecer um pouco mais a fundo sobre um grupo de afinidade pode te ajudar a entender melhor como funcionam, quais suas principais ações, mas principalmente, quais os impactos na vida de profissionais negras, que acabam se empoderando nesses grupos e se destacando profissionalmente:

#SomosBlack, o grupo de afinidade da Americanas

O #SomosBlack é o grupo de afinidade racial da Americanas, que foi fundado em 2022, de forma orgânica por associadas e associados negros da Americanas que tem como principal objetivo acolher a comunidade negra da companhia, possibilitar trocas de experiências e ser uma ferramenta efetiva para uma cultura organizacional antirracista e de proposição de agendas de melhorias.

É um ponto importante para a política de Diversidade e Inclusão da Americanas, já que fez parte ativamente da construção de uma cartilha de diversidade e do próprio letramento racial, onde 100% da companhia será treinada sobre questões como racismo, cultura e a importância da diversidade, por exemplo, e em parceria com o Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) e o MOVER (Movimento pela Equidade Racial).

Todos esses movimentos são realizados em um grupo repleto de mulheres negras, nos mais diversos cargos e até mesmo na alta liderança. Há encontros que acontecem para compartilhar experiências, rodas de acolhimento, de conversa sobre temas importantes para a comunidade, vivências e objetivos:

“Na nossa primeira reunião, eu me senti tão acolhida, foi tão bom, pareceu um abraço, porque quando você está em um grupo que você vê diretores, gestoras, coordenadoras negras, a gente já entende que “olha, dá pra gente chegar lá!”. É um espaço que você pode falar, você pode ser você, contas nossos relatos, aprender um pouco também. É um grupo sobre mudança.” Erika França, analista administrativo 

Contar a história e as ações desse grupo de afinidade é de fato emocionante para mim. Quando entrei na companhia, me lembro de sentir falta de estar coletivamente com pessoas como eu, e do sentimento de não saber se deveria estar ali. Mas, em pouco tempo, as conversas iniciais do #SomosBlack aconteceram e caiu a ficha de que eu realmente estava trabalhando em uma das maiores empresas varejistas, e principalmente, que existiam outras tantas mulheres negras, como eu, com as mesmas inseguranças, mas com o sonho de ser ainda maior.

Fazer parte disso não é só importante por entender que o grupo de afinidade é uma ferramenta para promover a diversidade, pra possibilitar que as pessoas tenham as mesmas oportunidades e combater o racismo dentro do ambiente corporativo. Mas além disso, é um espaço necessário para que se criem conexões importantes para a sua carreira, com pessoas que compartilham de vivências parecidas e que vão te ajudar a chegar aonde você deseja.

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