Antes de nos aprofundarmos no conceito de letramento racial, é importante que você entenda, de maneira geral, o que é letramento.
De acordo com a gramática, letramento é um estágio de aprendizagem que se inicia após o período de alfabetização. Assim, a pessoa consegue desenvolver, para além da leitura e escrita, a capacidade de entender as múltiplas formas de expressões através do uso da linguagem.
Em outras palavras, letramento é o processo educacional que permite que determinados assuntos sejam apreendidos de forma mais consistente.
Então, o que é letramento racial? O letramento racial é um conjunto de táticas, práticas e processos de ensinamentos que têm o objetivo de educar determinado grupo sobre questões raciais.
Essa educação em questões raciais também atravessa a linguagem, o modo de agir e pensar em determinadas situações, até o aumento de oportunidades no mercado de trabalho.
De onde surgiu o termo “letramento racial”?
O conceito de “racial literacy” foi cunhado em 2003 por France Winddance Twine, socióloga estadunidense. Ele consiste em desconstruir algumas formas racistas de pensar e agir que foram naturalizadas.
Mas, para além de estar apto a identificar atos de racismo e como ele pode se manifestar de diversas formas na sociedade, esse processo de letramento também visa a criação de estratégias de combate ao racismo em espaços onde essa violência é banalizada.
A socióloga Neide A. de Almeida define o letramento racial como “um conceito potente que convoca à reflexão e exige posicionamento teórico e prático”.
Mas, por que o letramento racial é tão relevante? Siga a leitura e saiba mais.
Por que o letramento racial é importante?
Sabemos que o racismo não é uma prática recente. Desde os processos violentos e desumanos de escravização de pessoas negras e indígenas, principalmente no Brasil, esses grupos sofrem diversos tipos de opressões que reverberam até os dias atuais e geram impactos em diversas áreas das suas vidas.
Em 2018, dados do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que das pessoas abaixo da linha da pobreza, 41,7% eram pretas ou pardas. A população negra é a que mais sofre os impactos da pobreza, além de ser a maior afetada por violências.
Essas violências se manifestam de diversas formas, como:
- Dificuldade no acesso a serviços públicos básicos como: saúde, educação, transporte, moradia e outros;
- Impactos na saúde mental;
- Dificuldade no acesso ao mercado de trabalho;
- Salários mais baixos em comparação às pessoas brancas que ocupam os mesmos cargos;
- Poucas possibilidades de promoção e ascensão profissional dentro das organizações;
- Situações de discriminação dentro das empresas.
Sendo assim, estamos falando de um sistema de opressões que para ser combatido e melhorado de maneira significativa, é preciso ser reconhecido e compreendido.
Portanto, é necessário que as pessoas consigam identificar os diversos aspectos e impactos da discriminação racial na vida de pessoas negras e dos grupos étnicos violentados historicamente.
Por isso a importância do letramento racial dentro das organizações.
Letramento racial na prática
Quando pensamos em como o letramento racial se traduz no nosso dia a dia, é inevitável pensar nas ações de instituições públicas e privadas. Ou seja, o que elas fazem ou ainda podem fazer para combater o racismo?
Desse modo, é Importante levar em consideração que não basta que as empresas contratem profissionais negros e negras ou de grupos minorizados.
Essa entrada não se traduz em permanência por uma série de aspectos. Fatores como desigualdade salarial, discriminação e violências ainda são muito recorrentes nos percursos trabalhistas dessas pessoas.
Portanto, é preciso que políticas de inclusão e permanência sejam adotadas para que essas pessoas consigam se desenvolver e evoluir em suas carreiras de forma saudável e justa. Algumas empresas têm adotado uma política antirracista e implementado ações em favor da diversidade, equidade e inclusão nos espaços corporativos.
A seguir, confira alguns exemplos de ações:
Recrutamentos inclusivos
Deve-se considerar que o processo de seleção de um candidato ou candidata é a porta de entrada para o mercado de trabalho.
Sendo assim, é fundamental que os recrutamentos sejam inclusivos e que os profissionais de Recursos Humanos estejam engajados sobre questões raciais para conseguir tornar esses processos cada vez mais atentos e preparados para acolher essas pessoas.
Criação de programas de inclusão
Antes de criar os programas de inclusão é indispensável o entendimento de quais formas de discriminação estão sendo praticadas na empresa. Com essa informação, é possível identificar quais as melhores formas de combatê-las.
Os programas de inclusão também podem servir para promover um letramento racial em toda equipe, por meio de palestras, debates, capacitações de lideranças, etc.
Implementação de ações afirmativas
Você já deve ter ouvido o termo ações afirmativas. Isso se deve ao fato de que muitas empresas estão buscando promover espaços mais diversos e inclusivos no ambiente de trabalho.
As ações afirmativas, ao contrário do que muitos podem pensar, não se limitam às universidades. Já foi dito no tópico anterior o quanto a dificuldade de acesso a serviços básicos como educação podem interferir de forma negativa no acesso das pessoas negras e indígenas ao mercado de trabalho formal.
Assim, promover ações afirmativas nas vagas de emprego é muito importante e é uma reparação histórica. Atualmente, algumas empresas têm disponibilizado vagas exclusivas para candidatas e candidatos negros. Concursos públicos também já adotam ações como essa.
Contratação de parceiros comprometidos com os mesmos valores
Contratar parceiros que também tenham os mesmos valores em relação às políticas de diversidade e inclusão também é uma boa maneira de incentivo às práticas de letramento racial para “além dos muros da organização”. Essa também é uma forma de fortalecer essas iniciativas.
Se a empresa contrata uma agência de Marketing Digital, por exemplo, é válido verificar o quanto esse parceiro está comprometido com políticas de D&I. Afinal, ele contribuirá com a comunicação da organização e, por consequência, com a imagem da empresa.
Dica de leitura para conhecer mais sobre o tema
No ano 2020, o jornalista Maurício Pestana publicou um livro chamado: A Empresa Antirracista: como CEOs e altas lideranças estão agindo para incluir negros e negras nas suas corporações.
Nessa obra, o escritor entrevista as altas lideranças de algumas empresas do Brasil e do exterior, para saber como elas estão agindo para promover inclusão racial.
Essa é uma dica de leitura para você que tem interesse em se aprofundar mais nesse tema.
E se você gostou desse conteúdo, também vai gostar de saber mais sobre Empreendedorismo Negro e conhecer iniciativas que estão marcando a história.
Louise tem 28 anos, é filha de Maria e Dandalunda, mulher negra, bissexual, candomblecista e baiana. Cursa Bacharelado em Letras Vernáculas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e atua como escritora profissional há seis anos. Foi nesses caminhos com a escrita, que encontrou e se apaixonou pela escrita persuasiva e estratégica do marketing de conteúdo.