Há mais de 20 anos os povos indígenas alertam sobre a crise climática, um dos maiores desafios globais do século XXI. E enquanto as discussões em torno do tema muitas vezes se concentram nas grandes potências econômicas, esquecem que os povos indígenas — principalmente a atuação de mulheres indígenas na política — têm um papel central na mitigação desses impactos.
Ao ocupar espaços de poder na política, as mulheres indígenas ampliam a representação de seus povos e garantem que as demandas e os conhecimentos tradicionais sejam ouvidos e considerados nas decisões políticas.
A demarcação de Terras Indígenas como solução climática
O conhecimento tradicional das mulheres indígenas sobre a relação entre a natureza e o ser humano é capaz de reverter, a longo, prazo, a situação climática no mundo. Por séculos de convivência com a floresta, elas desenvolveram práticas sustentáveis de manejo da terra e dos recursos naturais, garantindo a preservação da biodiversidade e o equilíbrio dos ecossistemas.
No 20º Acampamento Terra Livre (ATL), em abril de 2024, a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG), ressaltou que “se é para pensar economia da biodiversidade, tem que falar de preservação das nossas terras”. Um claro recado à tese descabida e inconstitucional do marco temporal. Esses territórios, compostos por florestas densas, rios e uma rica variedade de espécies, são responsáveis por sequestrar grandes quantidades de carbono, desempenhando um papel crucial na regulação do clima global.
A invasão de terras indígenas, por outro lado, tem consequências devastadoras para o meio ambiente. O desmatamento desenfreado, a exploração ilegal de recursos naturais e a contaminação dos rios liberam uma enorme quantidade de gases do efeito estufa na atmosfera, intensificando o aquecimento global.
A demarcação de terras indígenas é, portanto, uma medida fundamental para a proteção do clima. Ao garantir os direitos territoriais dos povos indígenas, estamos preservando os maiores reservatórios de biodiversidade do planeta e contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas.
A ascensão das mulheres indígenas na política
Nos últimos anos, temos assistido a uma ascensão significativa das mulheres indígenas na política, tanto ao nível local quanto nacional e global. No Brasil, temos Sônia Guajajara, ativista ambiental e atual ministra do Ministério dos Povos Indígenas, como exemplo de mulher indígena aguerrida que se tornou uma das vozes mais influentes na política climática. Sua participação na esfera política não só coloca as questões indígenas em evidência, mas também pressiona para a criação de políticas públicas mais inclusivas, que respeitem os direitos ambientais e territoriais dos povos originários.
Essa ascensão das mulheres indígenas na política está diretamente ligada ao aumento da conscientização sobre as consequências da crise climática e temas acerca dos direitos de povos indígenas, como a demarcação de Territórios Indígenas (TI), saúde da população e os confrontos com fazendeiros que estão cada vez mais frequentes.
Não podemos esquecer da primeira mulher indígena eleita deputada federal em defesa do seu povo em 2018 e atual presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), Joênia Wapichana. Vale ressaltar que em 56 anos de FUNAI, essa é a primeira vez que uma pessoa indígena preside a fundação.
As mulheres indígenas são defensoras não só das suas comunidades, mas de todo o planeta, ao liderarem a luta contra o desmatamento, a mineração ilegal e outras práticas destrutivas que prejudicam não só a natureza, como a humanidade.
Mulheres indígenas nas conferências internacionais
As mulheres indígenas têm se destacado como líderes climáticas em fóruns internacionais como a COP (Conferência das Partes), realizada anualmente pela Organização das Nações Unidas (ONU) para discutir caminhos para a mitigação das mudanças climáticas. Com suas vozes fortes e seus conhecimentos tradicionais, elas trazem para o debate uma perspectiva única e essencial para a construção de soluções climáticas justas e eficazes.
Txai Suruí, Juma Xipaia e Alessandra Mundukuru são alguns nomes inspiradores de mulheres que estiveram em espaços de decisão como a COP lutando por seus direitos e pelo futuro do planeta. Elas têm denunciado os impactos das mudanças climáticas em seus territórios, defendido a importância da proteção da biodiversidade e exigido justiça climática para os povos indígenas.
Desafios enfrentados por mulheres indígenas na política
Embora haja um aumento na representatividade das mulheres indígenas na política, elas ainda enfrentam grandes obstáculos. O racismo, o sexismo, a violência política de gênero e a marginalização histórica de seus povos são barreiras constantes nesses espaços de poder. Além disso, suas terras e territórios continuam sendo alvo de exploração desenvolvida por grandes corporações, governos e latifundiários. E mesmo diante de ameaças e violências, elas permanecem firmes na defesa da Terra e de suas culturas.
Ao entrar na política, as mulheres indígenas rompem com status quo de exclusão, trazendo suas vozes e saberes para espaços onde antes eram silenciadas, transformando essa exclusão em retomada e pertencimento. Sua luta é uma resistência não apenas à destruição ambiental, mas também à opressão social e cultural.
O futuro da política climática depende da inclusão das vozes femininas indígenas, pois elas, junto aos seus povos, são os guardiões dos últimos redutos de biodiversidade e estão na linha de frente da luta contra a destruição ambiental. Ao garantir que mais mulheres indígenas ocupem cargas de poder, não estamos apenas fortalecendo suas comunidades, mas também protegendo o futuro do planeta.
Formada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda pela Universidade Tiradentes (UNIT) em Aracaju-SE. Trabalha com marketing digital há 9 anos e já atuou como Social Media, Marketing BI, Analista de Comunicação e Redatora.
Com passagem por agências de publicidade e organização do terceiro setor, atualmente trabalha como Analista de Marketing na Awalé e é produtora cultural em Aracaju.