A percepção de pessoas negras como “regra” ou sujeitas a estereótipos negativos, enquanto suas conquistas são vistas como “exceções”, é um reflexo de estruturas sociais e históricas profundamente enraizadas.
Partir do pressuposto, das exceções, com histórias fantasiosas e com o discurso de que “é só você se esforçar que você consegue”, é um caminho perigoso quando pensamos na jornada de construção de acessos a oportunidades e possibilidades de ascensão social, uma vez que pessoas negras estão em diversos territórios e partem de pontos diferentes, o que não significa apenas se esforçar.
Esse é um olhar que precisa ser cuidadoso, inclusive dentro da própria comunidade negra, para não criar distanciamentos entre os nossos, especialmente quando temos a oportunidade de nos tornar referência e representatividade.
Esses “olhares” podem trazer falsas percepções de histórias, oportunidades e acessos.
É preciso manter um olhar atento sobre os principais pontos que impactam pessoas negras
1. História de racismo
A escravidão e a colonização estabeleceram narrativas negativas em relação às populações negras. Essas estruturas de poder perpetuam estereótipos que associam a negritude a inferioridade, criminalidade e outras características negativas, que muitas vezes não é a realidade para algumas pessoas negras.
2. Representação na mídia
A forma como as pessoas negras são retratadas nos meios de comunicação e na cultura popular muitas vezes reforça estereótipos. A falta de diversidade nas histórias contadas e nos papéis representados contribui para a perpetuação de visões limitadas. Geralmente, essa perpetuação acontece quando: pessoas negras ainda são retratadas em cargos de subalternidade, de pessoas criminosas ou a mulher negra está, ainda, na maioria dos papéis, com “a cara da faxina no Brasil”.
3. Sistemas de poder:
As instituições sociais, educacionais e econômicas muitas vezes favorecem grupos historicamente privilegiados. Isso pode resultar em barreiras que dificultam o acesso das pessoas negras a oportunidades iguais, reforçando a ideia de que suas conquistas são exceções.
Cida Bento (BENTO, 2022), retrata muito bem a escrita nesse parágrafo:
“Em um ambiente em que todas as pessoas são brancas, elas se identificam umas com as outras e se veem como iguais, membros de um mesmo grupo. Essa presença exclusiva de brancos, aliás, faz parte da realidade da maioria das organizações públicas, privadas e da sociedade civil. Quando isso é rompido pela presença de uma pessoa negra, o grupo se sente ameaçado pelo “diferente”, que por ser na instituição ou no departamento a única pessoa negra, num país majoritariamente negro, expõe os pés de barro do “sistema meritocrático”.
4 Microagressões e discriminação
Pessoas negras frequentemente enfrentam microagressões que minimizam suas realizações ou as colocam em dúvida. Isso pode criar um ambiente onde suas contribuições são desvalorizadas.
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5. Lentes de exclusão
A forma como a sociedade define o que é “normal” ou “exemplar” muitas vezes exclui experiências e visões de pessoas negras. Isso pode levar a uma percepção enviesada de sucesso e capacidade.
6. Resiliência e superação
Quando pessoas negras superam obstáculos significativos, suas histórias podem ser tratadas como exceções inspiradoras, em vez de serem vistas como parte de uma narrativa mais ampla de capacidade e potencial.
A transformação dessas percepções requer um esforço coletivo para desafiar estereótipos, promover representações positivas e diversas, e construir sistemas mais justos e igualitários. É preciso reconhecer a capacidade e a potencialidade das pessoas negras, gerando oportunidades e rompendo barreiras estruturais com intencionalidade.
Eu faço um convite, a você, pessoa negra que acabou de ler esse artigo? Vamos registrar aqui a potência que somos?
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É especialista em Diversidade e Inclusão e ESG, mentora de carreira e palestrante. Atuou por mais de 20 anos no mercado corporativo com vendas, experiência do cliente, treinamentos e gestão de crise. Comunicadora em formação, é uma entusiasta na transformação dos ambientes e gosta de pensar que está trilhando um caminho para uma sociedade mais justa.