Precisamos falar de ancestralidade e como isso interfere na autoestima das nossas crianças.
Como viver em uma sociedade racista e que impõe padrões e limites que não condizem com a realidade dos grupos minorizados?
Para que as crianças se sintam pertencentes a um grupo e longe de se sentirem deslocadas do grupo social é importante realizar práticas diárias que auxiliam na construção do ser e no desenvolvimento individual de cada uma.
No artigo de hoje você irá entender o conceito de ancestralidade, como resgatá-lo por meio de atividades junto à família e como isso pode conduzir a construção da identidade das crianças.
Boa leitura!
O que é ancestralidade?
A ancestralidade não pode ser definida apenas com algumas poucas palavras.
É um conceito que está vinculado a vários outros conceitos, como relação, ligação, inclusão, diversidade, unidade e encantamento.
Ao mesmo tempo que conseguimos pensar e sentir a ancestralidade, ela se manifesta como um modo de interpretar e produzir a realidade, atrelada às pessoas que viveram antes de nós.
É também para algumas pessoas um pensar ligado à religiosidade, na presença de antepassados que permanecem em um plano espiritual e que contribuem para a sua existência.
Mas saber sobre ancestralidade também é construir uma relação de respeito com a sua própria história e como ela foi construída antes de você.
Portanto, ensinar para as crianças sobre ancestralidade é compartilhar conhecimento e respeito.
A criança deve saber desde cedo sobre seus antepassados, como eles viviam e o que deixaram de herança cultural para ela. Mas como trazer à tona a ancestralidade no dia a dia das crianças?
Resgate da ancestralidade
Para que as crianças se mantenham em contato com sua ancestralidade é necessário algumas práticas diárias que na maioria das vezes as pessoas adultas deixam passar.
Antes de tudo é importante compartilhar experiências com as crianças.
Veja algumas dicas de como realizar o resgate da ancestralidade!
Conte histórias
Sentar ao lado de outras crianças e ouvir uma história do passado de quem se ama, é um dos momentos mais prazerosos que uma criança pode ter. Ela ouve a história e a sua imaginação voa.
Trazer histórias e vivências da vida de todas as pessoas mais velhas, da vovó e do vovô reconforta e ensina as crianças a cultura de tempos passados.
Por exemplo, histórias da família, assim como também podem ser livros infantis.
Atualmente, existem muitas autoras e autores que trazem histórias dos povos africanos e também dos povos originários, trazendo a tradição em forma de representatividade.
Um lindo exemplo é o livro “O Pequeno Príncipe Preto“, de Rodrigo França.
Tem também a história do indiozinho “Tulu”, que você pode conhecer um pouco acessando o site da editora no Youtube:
Esses são apenas dois exemplos de como os livros e as histórias contêm ancestralidade e como é possível fazer com que isso se torne parte da realidade das crianças de todas as idades, independentemente de suas origens.
Brinque como antigamente
Parece que as telas agora são a única possibilidade de diversão. No entanto, é preciso entender que brincar é parte importante no desenvolvimento emocional da criança e brincar como antigamente pode ser um ótimo jeito de falar dos ancestrais.
Brincadeiras de roda e outros jogos africanos como “Amarelinha Africana” e “Awalé”, podem ser jogados.
Aliás, mesmo se você não souber como funcionam, há muitos vídeos na internet que explicam como jogar.
Há também os jogos indígenas, como arco e flecha e cabo de força, que já são conhecidos do dia a dia, e todas as pessoas da sua família podem participar vivenciando a ancestralidade.
Compartilhe atividades com a família
Inclua as crianças em atividades com a família, é um modo inclusivo e potente de trazer a ancestralidade como um resgate no modo como as crianças constroem suas relações familiares e se desenvolvem socialmente.
Divida as tarefas e entender o funcionamento da casa é uma atividade ancestral no qual todas as crianças e as pessoas da casa de envolvem de forma a movimentar a família com apoio e harmonia.
Prepare o lanche, regar as plantas, cuidar do jardim ou ninar um bebê podem ser algumas das atividades para serem desenvolvidas em conjunto, lembrando da força de se estar em família e o quanto a ancestralidade está presente em momentos assim.
Construindo a identidade das crianças
Construir a identidade das crianças com bases sólidas e associadas a um resgate da ancestralidade é uma tarefa para ser realizada diariamente e com muita paciência.
Afinal, os grupos minorizados vivem rodeados de questões raciais e discriminatórias. A nossa ancestralidade foi vítima do apagamento cultural e por isso muitas das nossas heranças culturais foram esquecidas com o tempo.
Trazer à tona questões ligadas aos ancestrais é de grande valor para que as crianças desse tempo possam visitar suas raízes, entender a importância de respeitar os antepassados e lembrar a sua contribuição para os dias atuais.
Além de assumirem uma postura decolonial e antirracista, as crianças elevam sua autoestima e preservam seu senso de pertencimento em sua comunidade.
Resgatar a ancestralidade é uma maneira de educar crianças para um futuro mais diverso e menos preconceituoso.
Para saber mais sobre a importância da ancestralidade, não deixe de ler o artigo Ancestralidade e Feminismo negro: o que e como se relaciona com o cotidiano das mulheres.
Texto por Fernanda de Moraes
Aluna da turma 2 do Curso de Escrita Criativa e SEO
Conteúdos produzidos pelas alunas do Curso de Conteúdo Criativo e SEO da Awalé.