Poesia Negra: a potência e beleza das palavras das poetas negras brasileiras

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A poesia negra surge como um grito de libertação, em nome daquelas e daqueles que não puderam ter sua voz ouvida ou sequer expressadas ao longo de séculos de silenciamento, apagamento e opressão extrema.

A poesia negra surge com a literatura negra e se fortalece no rap, no hip-hop, na expressão da periferia que precisava se fazer ouvida.

Desde o início, ela serve para colocar para fora as dores das mazelas acumuladas por gerações e gerações de sufocamento da voz afro-brasileira.

Para a população negra é acalanto e alívio. A poesia negra é a sensação de finalmente poder compartilhar e se sentir representada nas letras, nas vozes, nas experiências muitas vezes inenarráveis.

Como surgiu a poesia negra?

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Lançamento do Cadernos Negros 1, na livraria Teixeira, centro de São Paulo, em 1978

A literatura negra no Brasil, com a influência do Renascimento Negro Americano, o movimento Negritude em Paris e movimentos literários da América Latina (como o Negrismo Cubano), começou a ganhar força com o surgimento dos Cadernos Negros em 1978.

Esses movimentos se empenharam em abordar a questão da população negra no Brasil, trazendo denúncias sobre o genocídio negro e também resgatando a ancestralidade e autoestima da população afro-brasileira.

Nesta esteira, a poesia negra surge como um movimento para trazer ao palco as vozes antes não ouvidas, aquelas que naturalizamos não escutar, mas que gritam dentro das entranhas a cada nova experiência, notícia, exposição de outro ato racista ou até mesmo nos momentos em que o racismo é mascarado de tal modo que não é possível colocar em palavras os sentimentos.

É assim que a poesia negra ganha força nas periferias: através das batalhas de rap e bailes funks, em que a potência das palavras de poetas negras e periféricas ganharam visibilidade.

A poesia negra aparece como uma possibilidade de finalmente expressar em palavras esse sentimento de sufocamento provocado pelo racismo e pelas mazelas sofridas pela população negra.

Ouvindo a voz do silêncio

Não é como “dar voz”, pois sabemos que nossas ancestrais mantiveram vivo o legado da contação de histórias, em suas palavras de acalanto e fortalecimento.

Na realidade, a ancestralidade negra sempre teve voz, mas nunca foi permitido que as mesmas fossem ouvidas. Realidade essa, que a poesia negra surge para subverter, colocando no centro da escuta as vozes negras que tanto têm para falar, denunciar e desabafar.

O direito à fala sempre foi dado a quem detém o poder, e, enquanto a história e a experiência de ser brasileira foi narrada apenas por vozes brancas, a ideia de hierarquização do conhecimento, da cultura e da própria experiência humana foi perpetuada, deixando à margem toda a experiência humana não-branca.

A partir do momento em que vozes negras passam a tomar o microfone para si, expondo a sua ancestralidade, sua experiência humana e a realidade vivenciada pela população negra, as histórias que estavam à margem passam a ser visibilizadas também através da poesia negra.

A seguir, conheça 5 poetisas negras da atualidade para se inspirar e mergulhar no universo literário brasileiro.

Para ler e se empoderar: conheça 5 poetisas negras da atualidade

  1. Jarid Arraes

Nascida em Juazeiro do Norte, na região do Cariri (CE), Jarid Arraes é escritora, cordelista, poeta e autora do romance “Corpo desfeito” e do premiado “Redemoinho em dia quente“, livro que venceu o prêmio Biblioteca Nacional, do APCA de literatura na categoria contos e finalista do prêmio jabuti.

Jarid também é autora do livro de poemas “Um buraco com meu nome“, da coletânea “Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis“ e de “As lendas de Dandara”.

Atualmente vive em São Paulo (SP), onde criou o clube da escrita para mulheres e tem mais de 70 títulos publicados em literatura de cordel, colaborando grandemente para a ampliação e divulgação da poesia negra.

  1. Lubi Prates

Nascida em São Paulo, Lubi Pratis é poeta, editora e tradutora. Tem três livros publicados: Coração na boca (2012), Triz (2016) e um Corpo negro (2018), que foi contemplado pelo PROAC com bolsa de criação e publicação de poesia.

É sócia-fundadora e editora da Nosotros, editorial, e é editora da revista literária Parênteses.

Sua colaboração para a divulgação da poesia negra vai além de seus próprios escritos, traduzindo e divulgando no Brasil também poesias negras de outras regiões do mundo como a poesia de Maya Angelou, mulher negra estadunidense.

  1. Geni Guimarães

Nascida no município de São Manuel (SP), Geni Mariano Guimarães atuou 28 anos como docente na rede estadual de São Paulo, passando por diversos municípios do estado, como Barueri e Embu das Artes.

A sua carreira literária teve início com publicações em jornais no interior paulista, em que envolveu-se com questões socioculturais do campo e começou sua reflexão em torno da literatura negra.

Geni escreveu vários livros, publicou na série Cadernos Negros e participou de algumas antologias.

Através da sua escrita e sua imensa contribuição literária, conta a história da literatura e da poesia negra brasileira.

  1. Júlia Suzarte

Júlia Pereira Suzarte nasceu em Feira de Santana (BA), atualmente é graduanda do curso de Letras com habilitação em Espanhol pela Universidade Estadual de Feira (UEFS).

Ela tem um livro de poesia publicado e escreve desde os seus 9 anos. Em 2018 ganhou um prêmio em homenagem a Maria Carolina de Jesus participando da FLUP (Festa Literária das Periferias/ RJ).

Pouco depois, em 2019 e 2020, participou do programa Encontro com a Fátima Bernardes, onde teve a oportunidade de divulgar um pouco mais o seu trabalho com a escrita e de conhecer pessoas que contribuem na divulgação de suas obras.

Atualmente Júlia tem um pouco mais de 12 mil seguidores no Instagram, sua principal rede social de divulgação do seu trabalho e da poesia negra brasileira.

Aos 22 anos, pretende viver da sua arte e é muito feliz fazendo o que faz.

  1. Sol de Paula

Sol de Paula é natural de Niterói/RJ, psicóloga por formação, ativista cultural, militante do movimento negro, escritora e poeta por inspiração.

Autora do livro “Sol em Pequenas Doses”, lançado em junho de 2020, ela apresenta sua poesia negra e temas relacionados ao cotidiano.

Sol também é coautora de Antologias Poéticas nacionais e internacionais em gêneros literários diversificados.

Atua como Membro Correspondente da Academia de Letras do Brasil/Suíça, Coletivo de Mulheres Poetas de Niterói, Coletivo Pretas Baoba e Coletivo Afeto Poético.

Sol de Paula espalha as sementes da poesia por todos os lugares que tenham pessoas interessadas em ressignificar suas experiências e dores pessoais.

Conclusão

A invisibilidade da história preta faz parte de um projeto de apagamento da grande contribuição afro-diaspórica na construção histórico-cultural da nossa sociedade, que também silencia traumas geracionais, a experiência suburbana, a fome, a violência, a objetificação, e o genocídio.

Além disso, a poesia negra, também muito marcada pela vivência das mulheres negras, tira da invisibilidade fazendo-as serem ouvidas ao compartilharem suas experiências ricas em cultura, rima, dança, conhecimentos, ciência e música, denunciando a exclusão e o silenciamento.

Para construir um futuro diferente daquele vivenciado por séculos de escravização que segue sendo perpetuado por nossa sociedade, é no grito pela reparação e em defesa de uma sociedade igualitária que a poesia negra faz eco.

Essa literatura negra brasileira denuncia, expõe, desabafa, reclama por seus direitos de ser e existir em uma sociedade que se retroalimenta racista, gritando por mudanças e pelo fim do genocídio de nossa história, cultura e carne.

É nesta experiência que poetas negras usam de toda a potência de suas palavras, voz e experiência para resgatar memórias, denunciar as violências e representar mulheres por todo o país.

Já conhecia a história da poesia negra e essas poetas negras que representam atualmente essa resistência através da escrita? Acompanhe o Blog da Awalé para mais conteúdos sobre mulheres negras inspiradoras e a história afro-brasileira.

Texto por Raysa Gonzága – Turma 5 

Raysa Gonzága. Palestrante, escritora e pesquisadora em Ensino de Ciências e Relações étnico-raciais.

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