Você realmente acredita que as pessoas sabem quem você é de verdade? Ou será que você tem criado e continua criando uma imagem apenas para gerar engajamento?
Essa pergunta surgiu recentemente durante uma das minhas conversas filosóficas com algumas das minhas mentoradas, especialmente quando sugiro um exercício para refletirmos sobre nós mesmas. Sei que, enquanto mulher negra, na nossa sociedade, historicamente não fomos incentivadas a pensar sobre o autocuidado, nem mesmo como uma estratégia profissional. A construção do nosso papel sempre foi moldada pela ideia de subserviência, de aceitar o que vier.
Quando volto aos meus próprios pensamentos e experiências, tanto pessoais quanto profissionais, lembro de muitos momentos, inclusive dentro de casa. No meu território, em Campinas, interior de São Paulo, até desenvolver minha consciência e letramento racial, percebi que a maioria das minhas relações, tanto pessoais quanto profissionais, se formaram a partir da busca por conexões genuínas. E essas conexões, a maioria delas, eu carrego até hoje. Porém, essa, até hoje, não é a cultura de construção de relações por lá. Deixe-me explicar melhor:
Venho de uma família muito festiva. Portanto, quase todos os finais de semana eram de festas em casa. Um dia, minha mãe, Dona Nilda, me perguntou sobre a profissão de um amigo (realmente um amigo!). Eu respondi: “Mãe, que diferença faz o que ele faz, se somos amigos?”
Nos ambientes que frequentamos, especialmente nos grandes centros, as relações costumam ser baseadas na profissão e não no ser humano em si. E eu sempre me pergunto: por que não começar pelo ser humano e depois falar sobre a profissão? Que tipo de relação quero estabelecer com as pessoas?
E aí, você deve estar se perguntando: como eu faço networking, então?
Eu gosto de pensar em um exemplo. Imagine que você se aproxima de alguém que tem afinidade com sua área profissional, ok. E, de repente, você deixa de carregar aquele CNPJ que, aparentemente, fazia toda a diferença nas relações que você conquistou. O que sobra?
Sem os seus títulos, os arrobas e os CNPJ’S, quem é você?
É aí que entra a importância de enxergar o ser humano para além dos títulos. Conexões verdadeiras não dependem de rótulos, mas de afinidades, valores e trocas reais. Afinal, no fim do dia, são essas relações que permanecem.
Desde o nascimento, nossa existência é moldada por interações que nos ajudam a aprender, crescer e dar sentido à vida. Veja alguns tópicos essenciais:
1. Desenvolvimento emocional
Relações saudáveis oferecem apoio emocional, ajudam na construção da autoestima e promovem o bem-estar psicológico. Conexões próximas nos dão segurança para enfrentar desafios e nos ajudam a lidar com as adversidades.
2. Identidade e pertencimento
Pertencer a um grupo – seja a família, amigos, ou uma comunidade – é essencial para a formação de nossa identidade. Através das relações, entendemos quem somos e encontramos nosso lugar no mundo.
3. Crescimento pessoal
As relações nos desafiam a sair da zona de conforto, incentivam o aprendizado e nos ajudam a enxergar diferentes perspectivas. Elas também nos ensinam a lidar com conflitos, negociar e desenvolver empatia.
4. Saúde física e mental
Estudos mostram que pessoas com vínculos sociais fortes vivem mais e têm menos chances de desenvolver problemas de saúde, como depressão, ansiedade ou doenças cardíacas. Relações de qualidade estão diretamente ligadas a um corpo e mente mais saudáveis.
5. Sentido de propósito e felicidade
Relações genuínas proporcionam momentos de alegria, cumplicidade e realização. Ter alguém com quem compartilhar vitórias, desafios e até o silêncio traz um profundo sentido de propósito à vida.
6. Suporte em tempos difíceis
Ninguém está imune às dificuldades. Ter com quem contar em momentos de crise ou vulnerabilidade faz toda a diferença, proporcionando apoio emocional e até prático.
É importante ressaltar que:
As relações humanas não são apenas uma parte da vida, mas o núcleo de quem somos como indivíduos e como sociedade. Elas nos conectam, nos fortalecem e nos lembram que, mesmo em um mundo cada vez mais tecnológico, a essência do ser humano reside na troca, na escuta e no acolhimento mútuo.
Danúbia Silva, é mulher cisgênero, 40+, negra de pele clara, natural de Campinas/SP. Especialista em Diversidade e Inclusão e ESG, Mentora de Carreira e Palestrante, atuou por mais de 20 (vinte) anos no corporativo com vendas, experiência do cliente, treinamentos e gestão de crise. Comunicadora em formação, é uma entusiasta em transformação dos ambientes e gosta de pensar que está trilhando um caminho para uma sociedade mais justa.