Coletivos feministas negros: o que são e como contribuem para o enfrentamento a violência

coletivos feministas

“Quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.

 

Essa frase célebre dita por Angela Davis segue ecoando na pele de cada mulher negra da nossa sociedade.

É nesse movimento de inquietude que os coletivos feministas negros tomam forma no Brasil, a fim de movimentar toda a estrutura racista e patriarcal vigente ainda nos dias de hoje.

Os últimos séculos foram marcados pela luta de classe, pela luta por igualdade de gênero e por uma igualdade étnico-racial em busca de um ideal de respeito às diversidades. 

No entanto, as marcas da colonização arraigadas e naturalizadas na sociedade não permitiram e ainda travam avanços significativos na luta contra as diversas violências enfrentadas pelo povo negro no Brasil. 

O que é um coletivo feminista negro? 

Se buscarmos o conceito de coletivo dentro da gramática, ela nos dirá que: coletivo é um substantivo comum que, mesmo no singular, indica um agrupamento de seres de uma mesma espécie. Ou um conjunto de objetos de uma mesma espécie.

Partindo desse conceito, podemos nos perguntar: “E na sociedade humana, o que vem a ser um coletivo de indivíduos?”

No caso aqui tratado, falamos de um agrupamento, um conjunto de mulheres negras que comungam do mesmo ideal ou lutam pela mesma causa. 

Portanto, coletivos feministas negros são agrupamentos de mulheres negras que lutam por uma igualdade racial e de gênero e contra todas as formas de violência as quais são submetidas historicamente. 

No entanto, o mais importante a ser destacado é o reconhecimento, efetivação e implementação das ações discutidas e projetadas dentro desses coletivos. 

Ou seja, ações que ganham projetos sociais, criações de leis e tantas outras propostas que auxiliam no enfrentamento das violências e empoderamento dessas mulheres.

Como o feminismo se relaciona com a luta antirracista?

É importante pensarmos que o racismo é elemento central na estruturação das desigualdades sociais, políticas e econômicas. Além disso, toda luta por transformação social exige o enfrentamento contundente ao racismo.

O feminismo negro é construído pelas mulheres negras. No entanto a luta antirracista é construída por mulheres negras e não negras, homens negros e não negros, por toda a sociedade. Afinal, não basta não ser racista é necessário ser antirracista.

O que pesa nessa relação do feminismo e a luta antirracista é que embora a luta antirracista seja feita também por mulheres não negras, ela deve levar em conta que não há uma igualdade entre nós mulheres.

Ao  fazermos um recorte de gênero no mapa da violência no Brasil, podemos identificar dados alarmantes. Segundo pesquisas de órgãos como o IPEA, mostram que 66% das mulheres assassinadas em 2019  no Brasil eram negras.

Cabe destacar ainda que pesquisas como a NPE – USP de 2021 mostram que as mulheres negras estão em profunda desigualdade social e econômica, principalmente no período da pandemia por Covid-19 . 

Esses dados revelam como as mulheres negras são duplamente negligenciadas ao sofrer tanto pelo racismo como pelo machismo. 

Além dos fatores socioeconômicos que jogam as mulheres negras para a margem da sociedade, tornando-se assim, o outro do outro, citando aqui Grada Kilomba:

 

Nesse esquema, a mulher negra só pode ser o outro, e nunca a si mesma. […]; mulheres negras, entretanto, não são nem brancas, nem homens, e exercem a função de o “outro” do outro.

Grada Kilomba 2020, Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano p.124.

O que acontece dentro dos espaços  de Coletivos feministas negros?

Para quebrar a roda da desigualdade é preciso tomar consciência valorizando e reconhecendo a experiência própria de ser negra como elemento essencial. 

Tanto para a organização das mulheres negras, como também para o pensamento e a ação feminista de enfrentamento ao racismo.

O rapper Emicida na letra da música Principia diz que: “tudo que nós tem é nós”, pensando em nós enquanto mulheres negras como força condutora de transformação é que surge a necessidade de união enquanto coletivo.

E é dentro desses coletivos feministas negros que acontecem grandes transformações sociais. 

Esses coletivos são formados geralmente por mulheres com trajetórias e vivências diferentes, mas todas comprometidas na construção de um outro mundo possível. 

Assim, os coletivos feministas negros podem interferir em políticas públicas quando de forma organizada se reúnem, debatem, estudam e propõem aos gestores públicos novas ações de melhoria atendendo a sua comunidade ou programas específicos. 

Por isso, destacamos algumas ações propostas por coletivos feministas negros:

Aposta no fortalecimento e na cobrança do ensino de História e Cultura Afro-brasileira nas escolas em conformidade com a Lei 10.639 de 2003, a fim de erradicar o racismo no Brasil.

Fomenta o empreendedorismo feminino e a economia solidária.

  • Coletivo de Mulheres Negras Abayomi 

Tem por finalidade dar  apoio e direcionamento a mulheres de diversos bairros da cidade de Salvador-BA. Para isso, oferece ajuda psicológica a mulheres  vítimas de violências produzidas pelo racismo, machismo e pela misoginia.

Dentro desses espaços as mulheres em situação de violência são acolhidas, recebem ajuda psicológica e muitas vezes financeira.

Como os coletivos feministas acolhem essas mulheres? 

Os coletivos feministas negros costumam atuar da seguinte maneira: 

  • através de organização e ações políticas sejam elas por intermédio de universidades públicas – que é onde vemos crescer o número de coletivos. 
  • acessando projetos que envolvam universidade e comunidade; 
  • por meio de partidos políticos que voltam seus projetos para as questões de gênero e igualdade racial. 

Os coletivos por sua vez levam os debates sobre o feminismo e racismo para a sociedade, para eventos a qual são convidados: escolas, universidades públicas e privadas e escolas secundárias, entre outros espaços. 

É importante compreender  os coletivos como uma ferramenta de atuação política e transformadora que buscam soluções e projetos que de alguma forma propiciam empoderamento, libertação, igualdade racial e de gênero.

Construir coletivos é construir pontes, é quebrar as barreiras do patriarcado e do racismo, é construir um lugar seguro, acolhedor e também de luta, de forma a movimentar todo esse sistema opressor que nos rodeia.

Coletivos feministas negros e política

E falando em  coletivos feministas negros como atuação política, é importante destacar o crescente número de candidatas que surgem através destes movimentos, assim como as candidaturas coletivas, que unem mulheres em mandatos coletivos em torno de lutas em comum. 

São exemplos: “Paula da Bancada Feminista” e “Monica do Movimento Pretas”  que foram eleitas deputadas estaduais em 2022, em São Paulo, pelo PSOL. 

Quer saber mais sobre as mulheres na política, continue no nosso blog e conheça  Mulheres na política: como nós estamos ocupando esse espaço?

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Texto por: Eline S. Barbosa

Eline é uma mulher negra, amazonense, mãe da Alice e do Arthur.  

Licenciada em Letras Português e Espanhol pela UFFS, pós-graduada em História e Cultura Afro-brasileira e mestranda em Letras pela UTFPR. 

Apaixonada pelo discurso e suas reverberações.🤎

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