Para iniciarmos as reflexões aqui propostas, precisamos, antes, trazer alguns conceitos para elaborar uma linha do tempo na discussão. A ideia é que você analise as terminologias para fazer sentido com o título e o que será abordado. Afinal de contas, você já parou para definir o que é sociedade?
A sociedade pode ser definida como um grupo de pessoas que vivem e interagem de forma organizada em um determinado território, compartilhando normas, valores, costumes e instituições. É na sociedade que as pessoas estabelecem relações sociais, formam grupos de convívio, desenvolvem cultura e estabelecem sistemas de organização social, econômica e política. A sociedade é fundamental para a construção da identidade e satisfação das necessidades individuais e coletivas.
A partir desse ponto, podemos agora refletir, antes da palavra “dororidade”, o que é “sororidade”? A palavra “sororidade” é utilizada para descrever a união e solidariedade entre mulheres, baseada no reconhecimento e respeito mútuos. Essa palavra tem origem no termo “soror”, que significa “irmã” em latim, e procura promover a colaboração e apoio entre as mulheres, lutando contra a opressão e o machismo.
Quando definimos sororidade, estamos falando de todas as mulheres?
Será que todas as mulheres têm experiências uniformes na sociedade? Respondendo a uma parte da pergunta: não, as mulheres têm diferentes experiências na sociedade. Para falarmos de TODAS as mulheres, precisamos considerar seus marcadores sociais, como território, classe social e raça. Pensando nesses marcadores, surgiu a dororidade.
Dororidade é uma expressão que se refere à dor específica vivenciada por mulheres negras, devido às interseccionalidades de gênero e raça que muitas vezes as colocam em situações de opressão e discriminação. Essa dor é resultado de séculos de racismo, misoginia e outros sistemas de opressão que afetam diretamente a vida e a experiência das mulheres negras.
O conceito de foi criado pela escritora Vilma Piedade no livro de mesmo nome. A palavra Dororidade significa a cumplicidade entre mulheres negras, pois existe dor que só as mulheres negras reconhecem; por isso, a sororidade não alcança toda a experiência vivida pelas mulheres negras em seu existir histórico.
Essa dor pode se manifestar de diferentes formas, como a invisibilidade social e a falta de representação, a violência racista e sexista, a discriminação no mercado de trabalho, a falta de acesso a serviços básicos de saúde e educação de qualidade, entre outros. Essas experiências compartilhadas entre mulheres negras as conectam, fortalecendo sua solidariedade e gerando a necessidade de criar espaços seguros de cuidado e apoio mútuo, como a sororidade.
Para reforçar o conceito de dororidade, é importante lembrar que:
- 27% da população brasileira é composta por mulheres negras;
- Mulheres negras ganham 55% menos que homens brancos;
- 62% das vítimas de feminicídio, em 2022, foram mulheres negras;
- O desemprego de jovens negras é três vezes superior ao de homens brancos.
Trazer dados é importante para reforçar que, sim, ser mulher negra é um desafio, principalmente quando falamos em acolhimento, afeto, apoio, oportunidades e acessos.
Não há democracia plena sem a inclusão das mulheres negras na estrutura da sociedade.
Vilma Piedade é graduada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Pós-graduada em Ciência da Literatura, autora do Livro “Conceito Dororidade”, publicado em 2017, pela Editora Nós. É palestrante e colunista, com dezenas de artigos publicados em várias mídias.
Danúbia Silva, é mulher cisgênero, 40+, negra de pele clara, natural de Campinas/SP. Especialista em Diversidade e Inclusão e ESG, Mentora de Carreira e Palestrante, atuou por mais de 20 (vinte) anos no corporativo com vendas, experiência do cliente, treinamentos e gestão de crise. Comunicadora em formação, é uma entusiasta em transformação dos ambientes e gosta de pensar que está trilhando um caminho para uma sociedade mais justa.